"Miss Mary McCarthy nasceu em 1900, na Terra Nova. Se tudo correr bem, celebrará 108 anos em Abril. Tem mais dois anos do que a República Cubana, instaurada em 1902, após a colonização espanhola. Mudou-se para Cuba com o marido em 1945, época em que era uma figura conhecida da vida cultural do estreito da Florida. (...) Miss MacCarthy caiu e fracturou a anca. Desde então, deixou de poder andar e tem vindo a enfraquecer. Contudo, veste a sua camisa de dormir cor-de-rosa como se fosse um vestido de noite, pôs brincos, o seu rosto macilento foi maquilhado e os cabelos elegantemente penteados em carrapito. "Uma Bette Davis"... (...)
O dinheiro de que a velha senhora dispõe, só dá para o estritamente necessário. Contudo, Mary MacCarthy está longe de ser uma desvalida. A sua conta no Boston Bank quarda centenas de milhares de dólares, ou mesmo milhões, bem como jóias valiosas. Mas não pode levá-las para Cuba, por causa do embargo norte-americano imposto desde 1960. A história de Mary é o resultado do duelo entre a ilha e o gigante norte-americano. (...)
Apesar das negociações diplomáticas, as autoridades norte-americanas não autorizarams senão a transferência da magra quantia de 98 dólares por mês, mais o reembolso de algumas despesas médicas. (...)
Por morte de Mary, Elio García ficará oficialmente proprietário da sua fortuna: Como sou cubano, nunca me deixarão tocar num cêntimo. De qualquer modo, não me interessa.
Acende o enésimo cigarro Popular. Elio, pára de fumar!, diz ela.
Com certeza, Dona Maria, responde-lhe, engolindo o fumo.
Miss Mary deixou de fumar aos 100 anos."
in Courrier Internacional, nº146, Abril 2008
Sem comentários:
Enviar um comentário