O Sr. Manuel desce as escadas, degrau a degrau, com o esforço e dedicação como se tivesse de levantar um menir.
Os lábios desviados e a expressão franzida, fazem-me olhar mais abaixo para tentar perceber a razão por detrás de tamanho esforço...
... afinal eram só umas escadas...
Tem muletas.
Apetece-me perguntar: "Precisa de ajuda?"
Apetece-me logo disponibilizar: "Eu ajudo-o a descer."
Mas daí penso logo de seguida que a minha disponibilidade pode ser mal interpretada:
"- Eu estou muito bem! Não sou nenhum deficiente, percebe?"
(Ouço isto como se fosse a voz de um diabinho no meu ombro.)
A linha que distingue Ajuda/Ofensa é tão ténue. Por exemplo a minha mãe, que é tão orgulhosa e não demonstra parte fraca:
"Quando ia no autocarro, estava grávida do teu irmão e levava-te ao colo. As pessoas olhavam para mim com pena! Ficava tão irritada!"
Depois, há as outras pessoas que pedem ajuda.
Não é pena que sinto quando pretendo ajudar quem precisa.
É atenção.
É colocar-me no lugar dessas pessoas e imediatamente pensar que se para mim fosse um esforço descer umas escadas, provavelmente não daria tanta importância a outros pequenos problemas que me inquietam no dia-a-dia.
Só está quem quer, quem não quer, vá andando.
Repito vezes sem conta como se fosse um processo de auto-mentalização.
Tantas pessoas para dar atenção e vou importar-me com quem não quer?
Não.
Só quero que me tratem bem,
sem ser bem demais,
e mais do que tudo,
sem ter de pedir.
quinta-feira, outubro 09, 2008
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4 comentários:
LOVE U!!! ;)
Ana Cardoso
é uma verdade intrinseca ao ser humano, quem quer, quer, quem não quer sai de cima!É assim que diz a boca do povo. Mas se assim é, até o mais comum dos mortais poderá ir-se num mar de contigência, onde uma simples palavra o fará retornar... são tantos os casos em que se vai, rejeitado pelo desejo, olhando para trás em busca de um chamamento.
Enfim,dizem que na vida somos acolhidos e largados, mas na verdade somos loucos sonhadores em busca de chão para andar.
....e às vezes o chão escorrega...
Muito bem escrito sr./srª anónimo/a. Na verdade existem momentos em que o chão escorrega... Daí surge outra verdade intrínseca ao ser humano que diz "O que não nos mata torna-nos mais fortes"... e portanto, mais loucos para tentar, nem que seja pela milésima vez, encontrar um chão seguro.
Acredito que a loucura poderá provocar a insanidade, sobretudo se esta loucura fôr desprendida, sem retorno...assim acontece qd o chão tem a palavra amor.
"Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco."
MC
Assim anda o poeta, desguarnecido nas ruas...
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