quinta-feira, janeiro 28, 2010

Castelo Andante




Às tantas ela só precisava de uma desculpa para esconder a fragilidade e dependência que sentia. Não queria, jamais, que alguém percebesse que renunciara à Humanidade.
Ela não acreditava mais nas pessoas.
O seu castelo, voava.... mas para longe.
Estava desiludida mesmo.
Ainda mais fazia notar a sua desilusão quando o castelo que tinha criado começava a atirar-lhe pedras.
Para cima dela, em cima da cabeça dela, pum-pum! Tum-tum... Aaaaaaaiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!!
Contra a sua cabeça. Enquanto ela olhava lá de baixo, tão pouco segura.
Olhava para as muralhas, como se olhasse para o céu.
(O seu castelo continuava a voar... mas para longe.)
Como se fosse uma criança a olhar para um adulto, e este lhe estivesse a dar o sermão da vida:

Não devias saber já, que o Pai Natal não existe?
Que o Mundo não gira à tua volta, tu é que tens de girar à volta dele?
Que os castelos fazem-se e desfazem-se ao sabor do vento?
Que, se queres alicerces, tens de os construir e esperar que nenhum furacão os destrua?


De cabeça erguida, escutava o sermão que vinha de cima, das pedras.
As lágrimas queriam rebentar, mas sabia que tinha de deixar de se vitimizar.
Chega.
A culpa foi tua, quem manda acreditar no Pai Natal?
(Queria tanto continuar a acreditar...)
O vento fazia dançar os seus longos cabelos numa melodia qualquer.
Podia ser Chopin. Ela gostava do Chopin e do piano tocado que fazia chorar.



Olhava lá de baixo e sentia as pedras baterem na sua cabeça,
com força,
mas permanecia intáctil.
Como se necessitasse de uma ferida exposta para justificar a razão da sua fugida.

No fundo ela sabia que a vida era isso:
Ver castelos a desmoronar.