terça-feira, setembro 26, 2006

Sabias que...

Sabias que... para mim é fácil desistir?

Não lutar por uma causa, que, penso sempre perdida, penso sempre predestinada, penso sempre condenada, por ser fortemente influenciada por uma intemporalidade irreconciliável?

Sabias que... para mim é fácil deixar?

Deixar de investir precipitadamente, assim de um segundo para o outro, por não ter tempo a perder, por não ter tempo para esperar, por ter não ter nada que me faça tristemente e frustradamente estar dependente, por não ter a quem dar o exemplo ou justificações que nem a mim me convencem, por ter tempo ainda para começar de novo?

E deixar ainda quem não quer estar (Ah! basta dizerem-me...), por não querer prender, por não querer sufocar nem agarrar, quem no seu perfeito juízo inventa, quem do seu perfeito juízo não vai à guerra, quem na sua sanidade mental não LUTA e desiste... assim como EU.

Sabias que... para mim é fácil continuar?

Seguir em frente depois da queda, incrível como me dá mais força, incrível como me alimenta... mais parece que a passividade a mim me atormenta, me constrange, ao ponto de na passividade me deixar entorpecer.

Sabias que... para mim é difícil esquecer?

Esquecer quem cá... para sempre, estará.

Nem tu, nem nenhum outro estarão.

quinta-feira, julho 20, 2006

Descoordenações Centralizadas

Não interessa o teu passado flagrante e tantas vezes rebuscado. Tu partiste. Sem medo e sem dó. E agora envelheceste. Como as rugas bem demarcadas na pele fotoenvelhecida, provocadas por tantas expressões musculares contraídas e por inúmeras horas de vivências e convivências.

Não interessa se envelheceste. O "ultra"passar dos anos só nos marca com sabedoria e inteligência, que, perfeitamente sincronizadas, conduzir-nos-ão a um estado de plenitude e divindade... Mesmo sem alucinogénicos à mistura.

Não me agrada ver um olhar tão triste e adormecido num banco de um jardim num final de tarde afagado pelo vento. O vento acalma a solidão inquietante que não passa despercebida a ninguém decentemente atento pelo que o rodeia, mas destapa o couro cabeludo porque esvoaça a queratina grisalha, expondo cruelmente a alopécia senil que o chapéu tentava disfarçar. A velhice não deveria ser assim. Completamente ignorada como se tivesse um prazo de validade expirado. Revolta-me tanto desprezo e desconsideração por uma "classe" que para mim merecia ser incondicionavelmente venerada e colocada numa ara.
TU, que não tens rugas marcadas pelo tempo, quem pensas que és? Que estórias mirabolantes e verdades moralistas pensas que tens para cativar? Cala-me essa boca e engole o sapo de seres um "frango" no meio das corujas. Aprende a respeitar o velho sábio e dá-lhe tudo o que ele, um dia, te deu a ti. "Filho és, Pai serás." Já te esqueceste de quem te deu de mamar ou quem te ensinou o Bê-À-Bá? A memória é curta, infelizmente... mas só para ti. Há tónicos cerebrais disponíveis no mercado farmacêutico, mas duvido que sejam eficazes. Mesmo com "overdoses" realmente tóxicas...mas farmacologicamente inúteis para estimular essa microcirculação cerebral. O teu prognóstico só seria positivo se a tua alma fosse não medicinalmente exorcizada. Esquece. Só está, quem estar quer, e, quem não está, estivesse. Espero que seja sempre o meu lema de ordem.

É aqui que tu entras, passado rebuscado. Ou sais, melhor dizendo. Por mais que viva descoordenadamente desnorteada, a verdade é que... o meu Norte está bem orientado na Rosa-dos-Ventos.

Engraçado é como o meu Norte corresponde ao teu Sul.... será que nos encontraremos no Centro?

quarta-feira, maio 03, 2006

Sinapse

Estou a aterrar.
Descolei de avião com a intensidade como quem quer viver até ao último minuto...com aquela força impeladora de uma sensação de "soco seco" na barriga e que nos consome até ao osso...Até aos músculos erectores dos pêlos da superfície da pele, contraídos por sinapses induzidas pela tua presença. Sim. A tua presença sempre me sinapsiou. A tua presença sempre me inconformou. Mas nem tu nem ninguém do teu sangue, noticiou.

Guardei o meu segredo num baú como quem não quer desvendar um sonho, porque era arriscado e inaceitável demais saber-se que tu me sinapsiavas e porque, afinal, tu já estavas sinapsiado, mas por um estímulo diferente.

Até que decidiste vir abrir o baú. Naquelas noites em que nenhuma estação antropológica poderia alguma vez prever o teu comportamento humano... Naquelas noites, como em qualquer noite ou dia passados, em que nada, mas mesmo nada, poderia indiciar que te aproximasses de mim... Parabéns. Conseguiste até surpreender o coelho da Páscoa.

Talvez tenhas encontrado uma chave perdida no teu caminho indefinido e tivesses resolvido experimentar na primeira porta...na porta do meu baú, quem sabe à espera de uma saída para a tua condição...ou para a tua "posição", como me disseste ao telefone. Foi aí que descolei sem sequer fazer o "check-in". Quando dei por mim, estava a sobrevoar no meu sonho e era real. Era mesmo real... Mas era. Não o será mais.

(...)

E apesar da segurança falível do check-in (haverá alguma segurança infalível?), fui obrigada a passar pelo detector de metais, e sabes que mais? A tua chave não podia embarcar...Devia ter percebido naquele instante que a resposta para a tua condição, afinal, já estava encontrada. "Maluquice". Não deveria ter acontecido nunca. Sabes que eu acredito que..
as palavras... não as leva o vento. Não podem simplesmente ser soltadas em vão, porque são o nosso código de entendimento interpessoal. É através delas que reagimos, agimos e comandamos as nossas vontades, lutas e receios. É com elas que podemos traduzir ou justificar o nosso comportamento. Sempre interligadas com o comportamento. Porque só por si, podem perfeitamente ser momentâneas e esquecíveis. Como as tuas.

Foi um poço de ar e eu fiquei asfixiada por esse soco tão seco na barriga e parei de respirar.
Por que é que, pela segunda vez, me vieste buscar e abrir o baú à força para eu mostrá-lo a todo o mundo? Porquê? Tantas vezes te perguntei...tão poucas mal me respondeste.

Estou a aterrar agora e tu há muito que recomeçaste.
Não te preocupes. Ninguém saberá. Podes adormecer sossegado.
Ninguém saberá que aquela noite vai fazer, para sempre, parte da minha vida.

sábado, abril 15, 2006

"Imobilizações" não encenadas















Foto 1: Tia Avó Isidora.














Foto 2: Vista da Casa da Cerca (Almada).














Foto 3: Rapaz com bola nas escadas (Almada).















Foto 4: Isidora a descascar uma laranja.
















Foto 5: Jogo de Snooker na Sociedade Filarmónica da Incrível Almadense (SFIA).





















Foto 6: Jogo de Damas na SFIA.



sábado, abril 08, 2006

O Ritual



O ritual é sempre o mesmo. Fora isso, não seria ritual, não seria protocolo.
Aacabei de chegar de um ritual. Doiem-me os pés. Estão calejados do protocolo dos saltos altos em dias de cerimónia, porque não estão habituados. E habituada nunca estará a minha alma a tais rituais. Porque não se identifica. Porque não vê nada de novo, nada que lhe ensine e lhe surpreenda num dia de calor inesperado de ritual.

O padre recita sermões decorados num tom de voz gravada e ajuda-me a confirmar a minha heresia. Nada de novo. Só surpreendeu pela rapidez do sermão. O Santo António não foi assim tão fugaz com os peixes, mas eu agradeci a brevidade. Acho que tal foi justificado pela pressa em que saiu da linda capela, disfarçado de jeans (ou seria disfarçado de padre?), de pasta na mão, óculos escuros e de cigarro aceso.

Batem chapas a cores, são os fotógrafos que tentam dar vida ao ritual para assim posibilitarem uma recordação gravada e eterna. Sim, porque a nossa memória atraiçoa-nos e nunca sabemos se amanhã recordaremos o ritual. Nunca saberemos se o SIM de hoje será um NÃO daqui a horas, dias, meses, anos. Nunca saberemos se a pessoa a quem nos entregamos hoje, não nos deixará plantadas com os filhos para cuidar e educar, amanhã. Nunca saberemos o amanhã. Mas assim é que tem piada.

Foi mais um casamento. Não quero aquela tradição no meu casamento, por isso acho que não vou querer seguir um ritual. A minha grande amiga quis, e agora está feliz. Sem mais críticas e rejeições a rituais, nestes momentos o que mais importa...é saber que quem eu amo, seguiu o seu sonho.

sexta-feira, abril 07, 2006

Julieta


"Julieta", disse ele.
E voltou as costas.
Como se quisesse escolher o nome para uma filha que seria fruto de um amor que nunca tivémos. Ou que, pelo menos, ainda não teríamos tido.
Como se fosse de partida à descoberta de novos trilhos, numa caravela de D. Afonso Henriques, e ansiasse escrever um nome numa carta dirigida a mim. A mim e à Julieta.

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,

E a orla branca foi de ilha em continente,

Clareou, correndo, até ao fim do mundo,
E viu-se a terra inteira, de repente,
Surgir, redonda, do azul profundo. (...)

Fernando Pessoa

Para que a mensagem não se perdesse, boiando num mar imenso encarcerada numa garrafa de cristal. Cristal diamante que brilhasse mesmo num dia chuvoso e enovoado de Abril. Para que fosse encontrada. "Abril, águas mil." Águas de mar e de chuva que me revestissem numa segunda pele e me oferecessem, para além da sua frescura natural e revitalizante, uma promessa inverosímel... mas credível no seio da loucura de um sonho.

MaryMoon

domingo, abril 02, 2006

Tulipas


"Tulips" from BLOC PARTY

When you said tulips
I knew that you're mine
When I caught you there
Crying in the night
Wearing my jacket
Wearing that smile

I knew that I'd found you

This could be an opportunity

Were you unawares?
Did it catch you out?
Or did it break you in
Right from the start?
It's as pure as fire
It's as pure as snow

I knew that I'd found you

This could be an opportunity

If you promise to let it
If you promise to let it grow

'Cos you're the one I love