quarta-feira, outubro 31, 2007

GATAGIRL

Pedras no meu sapato?
Apanho-as todas e atiro-as com grande precisão e pontaria... assim, mesmo em cheio. Para fazer galo. Depois viro costas e sigo em frente.

AHAHAAHAHAHAHAHAHAHAH

É tão bom sonhar e puxar pelo nosso lado mais sombrio, sermos fortes e vingativos através do nosso alter-ego e realizarmos um filme bem à Tarantino.

Assim, GIRL POWER ou GATAGIRL POWER ;).

sexta-feira, outubro 26, 2007

Da Rússia com muito rancor...

Putin que o par@£§!
Nem o Benjamin Biolay me salvou desta perda de anos.

terça-feira, outubro 23, 2007

Benjamin



Benjamin Biolay - "Dans La Merco Benz"
Álbum Trash YéYé


Acordar e perceber que tem de ser mais um dia. Um dia em que lutas para que algo de diferente aconteça e não te deixe mergulhar na apatia monótona e sufocante. Queres respirar e abres a janela do carro... pufff! O cigarro do condutor vizinho misturado com o monóxido de carbono dos condutores vizinhos misturado com os perfumes dos condutores vizinhos. Que horror. Estás, Cláudia, estás encravada, sim, reprimida. Não consegues respirar, bem... profundamente. Acordas a pensar em como era bom ter o mar ali, logo ali, ao acordar. Poder pôr o pé na areia logo de manhã, antes de te dedicares a um dos teus sentidos da vida. Penso. "O que é que eu estou aqui a fazer?", meto a mudança e penso, "Mas por que é que sou mais uma num milhão que tenta entrar numa cidade sozinha num carro de tantos lugares?", e volto a pensar "Que direito tenho eu a poluir o ambiente, a julgar-me dona suficiente do Mundo e prepotente o suficiente para alugar um espaço fútil e desnecessário, para no fundo culminar tudo num tamponamento congestivo?", e ainda volto a pensar que poderia fazer, uma maluquice e idiotice bem benigna "Pst! Tu aí, desse carro, encosta o teu carro p'ra aí. Melhor! Vende-o! Passas a atravessar comigo todos os dias este elo tão ténue em que toda a gente se afunila e atropela... anda, e assim libertamos espaço e não contaminamos o ar que respiramos. Matamo-nos menos. Anda! Vem. Olha chama a outra pessoa do outro carro e diz-lhe para fazer o mesmo. Vem, combinamos, conhecemo-nos melhor, fazemos mais amigos. Para que nos fechamos cada vez mais? Vem, entra. Fica. Se quiseres...."

Piiiiiiiiiiiiiiiiii!!!!!!!!!!!!!! "Acorda pá! estás a dormir ainda??!!??? Anda com essa merd@!!! Carroça! Vê-se mesmo que és mulher!" Sobressalto-me... estava a sonhar claro. Embalada pelo Benjamin Biolay, tudo é mais possível. Penso "Palhaço do caraças, se pudesse, espetava-te com a carroça e logo verias como é que é ser mulher."

Respiro fundo... Fecho os olhos pouco tempo para não parar de novo. Meto mais uma mudança. Não escolho o caminho porque ele já está escolhido.

Talvez um dia faça inversão de marcha.

sexta-feira, outubro 19, 2007

Frima-te

"Este final de Setembro, o mês dos meus anos, tem-me custado. Perguntas sobre perguntas acerca de mim mesmo e a angústia do sentido da vida e da forma como me relaciono com ela. O que posso fazer, o que devo fazer? (...) Os meus defeitos aparecem-me de forma muito clara e dolorosa. Não só os meus defeitos: as minhas insuficiências, os meus erros. Sempre imaginei que um livro resgatava tudo: não resgata. E no entanto continuo a escrever, como se esse acto contivesse em si a minha salvação. (...)

Vou-me olhando de forma cada vez mais distanciada e sem indulgência. A impressão, melhor: a certeza de haver falhado. O quê? Não estou deprimido, não me sobra tempo para depressões, sou apenas um homem, diante do seu espelho interior, que não gosta do que vê. O que poderia ter feito? O que deveria ter feito? Esta permanente tortura que a gente disfarça. A ideia recorrente que aquilo, quer dizer que a única coisa que a vida nos dá é um certo conhecimento dela que chega tarde demais, sempre tarde demais. Grandes cães que se entredevoram dentro de mim. (...)

Apetece-me desaparecer atrás das palavras, ser de facto o ninguém que sou: um nome apenas, numa capa. E deixar o resto para mim, dado que não tem nenhuma importância colectiva.

Agora é manhã e está sol. Nenhum ruído à minha volta. Se eu pudesse passar a vida a limpo, como diz o Drummond, corrigia quase tudo. Que pena não podermos emendar os dias, o que fizemos, o que somos. Um demónio qualquer distorceu-me tudo ou fui eu quem distorceu tudo?

Agora é manhã e está sol. Se eu fosse DEUS parava o sol sobre Lisboa, escreveu Fernando Assis Pacheco.
"- Está solzinho, que horas são?" Esteves nossos diminutivos de que tanto gosto.
Oxalá o sol continue parado sobre Lisboa, parado sobre mim e eu embalsamado nele. Vestido dele. Afogado nele. Se eu fosse Deus era uma carga de trabalhos, não lhe invejo a sorte.

Nada mudou e tudo mudou: como eu gostava de ser pragmático, em lugar de viver numa nuvem cujos limites, aliás, distingo mal. Ou então a nuvem sou eu. Gasoso. De que raio de substância sou feito? Estou a deixar a caneta correr ao gosto dela, sem policiar nada. Que faça o que lhe apeteça. O Sol desapareceu, voltou. Olho em volta, regresso ao papel. Está solzinho, que horas são? O Júlio Pomar
- Aguenta-te
e há alturas em que é difícil aguentar, Júlio. Que raio de destino, que sina. A voz dele
- Como estás tu?
e a lata de me perguntar isto a mim que nunca sei como estou, nunca soube como estava.
- Como estás tu?
é a pergunta mais difícil de responder do Mundo."

António Lobo Antunes, in crónica da Visão edição nº763 - 18 de Outubro de 2007 Se eu fosse Deus parava o Sol sobre Lisboa

segunda-feira, outubro 15, 2007

Xavier

Sábado chegou mais um hóspede a minha casa: o Xavier.

O Xavier é uma pequena peste, direi até um pequeno leão... o seu lado pueril faz com que fique embasbacada a observar as suas brincadeiras com tudo o que mexe... e até com tudo o que não mexe. Desde saltos e correrias desenfreadas, até loopings e mortais elásticos, o Xavier é um autêntico trapezista. Chega até a pendurar-se nas minhas cortinas de fitas, tal qual lianas, e anda suspenso de um lado para o outro tal qual Tarzan! Dei por mim a indagar comigo: mas que raio, deram-me um gato ou um macaco?!?

De repente, como se a sua energia dispendida esgotasse subitamente, o Xavier cai para o lado e hiberna horas e horas em qualquer posição. No meu colo, no meu ombro, na cama ao meu lado... olha para mim com os seus olhos cinzentos e lentamente, começa a fechá-los como se tivesse dopado por um alucinogénico qualquer.

Derreto-me completamente.

terça-feira, outubro 02, 2007

Femme Fatale

Não se vestia de saia curta nem de decote exposto para ser considerada uma femme fatale, toda ela adornada por uma volúpia peculiar, como se o seu charme fosse tão natural como o ar que respirasse. Não era somente o seu palmo de cara. A sua atitude e postura tornavam-na um ser singular, tão irresistivelmente atraente que até fazia rodar cabeças involuntariadas pela lei da atracção e da tentação.

Ninguém deixava de repará-la. Nem mesmo a mulher mais universalmente "bonita". Atrever-me-ei a compará-la à sensualidade marcada da Anita Ekberg na Doce Vida, misturada com a beleza ingénua e pueril de Marilyn Monroe, ainda rematada por uns toques finais da infantilidade rebelde e erótica de Maria Schneider naquele Último Tango...
Apesar da comparação ela era exclusiva, como qualquer mulher que por ser única o é, mas... ela era a mais exclusiva da exclusividade. A mais sensual da sensualidade. E por isto tudo, uma verdadeira femme fatale.

Esta femme fatale disfarçada de Miúda Marota atraía homens e mulheres que ambicionavam a sua carne, mas repelia homens e mulheres que não sustentavam ficar à sombra da sua presença.
Uma noite, saiu à rua sozinha como sempre. Nem se importava assim tanto. Afinal não devia nada a ninguém, não estava sujeita às podridões que teimavam enfrentar o seu olhar... aquele olhar de lince que em tudo repara e que nada lhe escapa. Assim como se fosse um detector de almas. Ah... tantas que a rodeavam e não valiam sequer um segundo olhar.
Nessa noite, comandada e embalada pelo seu melhor companheiro, aquele cujo nome deriva do árabe e que tem na sua cadeia um grupo hidroxi, ou seja, um grupo -OH. Vamos-lhe chamar Alcoxi (porque não?). O Alcoxi acompanhava-a constantemente e dava-lhe a força que ela precisava para enfrentar o mundo de cães babados e danados para a possuir. Com o Alcoxi era-lhe permitido igualmente abstrair-se da apatia e solidão, deixando-se levar pela música como se fosse um Dó maior a flutuar na pista de dança. O Alcoxi em grandes quantidades acentuava-lhe ainda mais a sua volúpia inata e marcava-lhe com maior relevo o seu olhar de matadora. Aquele olhar de femme fatale que atinge o alvo disfarçando que olha para o infinito.

Cai o primeiro pato. Aquele pato estúpido que sempre venerara embasbacadamente a Vénus que casualmente cruzava o seu caminho.
Diz-lhe : (vamos chamar-lhe Pato)

Pato (P): O teu mistério atrai-me.
Femme Fatale (FF): Ai sim?
P: Sim.
FF: E não receias que seja uma caixa de Pandora?
P: Não. Tanta beleza não pode esconder todos os males do Mundo. Todos os males do Mundo não conseguem penetrar em tanta beleza.
FF: Não é o que conta a lenda...
P: Não quero saber o que diz a lenda. Quero saber de ti. Diz-me, gostas de mim?
FF: ....
(Espeta-lhe um beijo daqueles que até encostam contra a parede e o fazem sentar em cima do caixote de lixo.)

(...)

P: Há tanto que queria isto...
FF: ...
P: Esta sensação de déjà vu... vai repetir-se? Igual ao passado?
FF: ...
P: Fala. Diz-me.
FF: ...
P: Porquê? Porque sim? Porque, nada? Porque... talvez?
Talvez quisesses mais uma vez extravasar a tua liberdade e moralidade condicionada pelos teus princípios? Talvez tivesses conseguido ultrapassar ou até esquecer momentaneamente a verdade que queres seguir? Só queria saber porquê e o quê? Fala. Diz-me. Não firmaste um pacto comigo, não. Não estou a reivindicar reciprocidade sentimental, não. Continuas livre, sim.
FF: ...

Manteve-se aquele silêncio mudo e ensurdecedor. Silêncio que se traduziu em gestos e olhares cúmplices barulhentos o suficiente para abafar qualquer resquício de déjà vu sobre um passado que apesar de efémero, fortemente marcou o pato. O pato estúpido. O pato abafou tudo porque queria afastar o prenúncio do que viria a seguir. Ele não queria o que viria a seguir, apesar de já saber o que viria a seguir... A inevitabilidade acabaria por acontecer:

Ela virou as costas.
Mais uma vez.