sexta-feira, dezembro 25, 2009

These boots are made for walking

Edie Stall: What is it?
Tom Stall: I remember the moment I knew you were in love with me. I saw it in your eyes. I can still see it.
Edie Stall: 'Course you can, I still love you.
Tom Stall: I'm the luckiest son-of-a-bitch alive.
Edie Stall: You are the best man I've ever known. There is no luck involved.


in "A History of Violence" by David Cronenberg

sexta-feira, dezembro 04, 2009

Recomeçar

Recomeça...
Se puderes,
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
do futuro,
Dá-os em liberdade
Enquanto não alcances,
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.

Miguel Torga

quarta-feira, novembro 11, 2009

sábado, outubro 03, 2009

Lua Cheia


A lua está assim...
Sentados e a garrafa de cerveja que refrescava a nossa alma.
Estar longe da civilização, da luz poluente e permanecer na escuridão iluminada pelo luar é uma dádiva.




Era isto que os teus olhos procuravam ao longo do Rio?

A Film about us

A internet é um Mundo maravilhoso, não me canso de repetir isto.
Fascinante, mesmo.
E não me estou a referir à praga de facebooks, twitters, hi5 e afins acéfalos pró-show-off, que acabam por criar uma dependência irreconhecível nas almas mais carentes.
Falo antes, das mil e uma coisas surpreendentes que podemos absorver, os mil e um caminhos que podemos seguir para depois encontrar, inconsciente e involuntariamente pérolas, ainda por cima, feitas cá, em Portugal!

Janela abre janela, e o caminho foi este:

www.rtp.pt
http://camaraclara.rtp.pt/
www.lxfactory.com
http://www.who.pt/
http://www.who.pt/#/portfolio/Pedro_Lino___Ilustracao/
http://www.pedro-lino.com



Alguém se reconhece aqui?

terça-feira, setembro 29, 2009

Metáfora




Quando tenho medo do futuro incerto,
adormeço de luz acesa,
para que a escuridão não me atormente,
e a claridade se metaforize na esperança e força
que quero sempre ter...
Para me levantar no outro dia.

quarta-feira, setembro 16, 2009

Hangover

A ressaca das férias nem teve tempo de ser ressaca,
foi mais do tipo, antes do ser, já o era, como a pescada.

Ritmo alucinante laboral: reorganização, reajuste, redistribuição, e nós sempre com o espírito positivo, a tentar pegar nas pontas do lençol, para impedirmos que a moral dos que ficaram fosse abaixo! Juntos venceremos, em equipa, chegaremos mais longe! Vamos resistir às intempéries como os nossos antepassados resistiram e marcaram a História de Portugal! Vamos construir uma história contínua, sem que seja apenas uma história printada em livros... vamos, vamos, vamos! Para uma direcção concreta, mas vamos...!
Vamos para algum lugar, mas vamos!
Numa direcção que saibamos, mas vamos!
Não interessa o destino, interessa sim saber que vamos! Quase sem respirar, sem ter tempo para pensar (e que bom não pensar!), sem ter tempo para preocupar, viver, assim, sôfregamente, sem ter tempo para ver o que temos, o que conquistamos e de repente...
... sentir que vivemos tão rapidamente e inconscientemente...
... que nem damos pela partida de quem mais gostamos.

"Nenhum vento sopra a favor, de quem não sabe para onde vai." Séneca

É tudo uma questão de perspectiva

sexta-feira, julho 31, 2009

Suspiro



Finalmente.

segunda-feira, julho 06, 2009

Acordar sem ti

Penso que:
Não aguento mais.
Mas às tantas só penso, mergulhada num turbilhão de ideias: fugir daqui, fugir daqui para bem longe contigo, para um lugar seguro. Onde poderíamos ser felizes como somos
(nunca fui tão feliz, obrigada mais uma vez por existires, por teres aparecido na minha vida)
mas longe daqui,
da civilização stressante que nos consome em carne viva,
do ruído ensurdecedor que não quero ouvir e insiste em furar-me os tímpanos,
do ar irrespirável que nos mata em cada suspiro,
do mau-humor matinal que contagia os seres errantes que se deixam guiar por esta selva de betão.
E depois olho à minha volta,
"Menina, dê-me um dinheirinho para comer uma sandes, porque fui atropelado e não tenho seguro nem dinheiro para comer..."
Coração aperta (ainda), afinal posso dar,
"Peço-lhe uma sandes aqui e pago-lhe, quer?"
"Oh menina, eu só como sandes e bolos o dia todo, eu queria era mesmo um prato, a sério que não preciso de dinheiro para a droga... mas dê-me dinheiro..."

Num Hospital, também olho à minha volta:
Uma velhota chora e o coração volta a apertar: tenho a certeza que não é fácil aceitar o fim.
(Eu própria ainda não aceitei o teu fim... que partiste, Isidora)

Dedico-me de corpo e alma como sempre me dediquei.
Não me imagino em lugar nenhum sem ser assim.
E depois, ver que não chega, mesmo assim.
Que não chega.
Chega.

sexta-feira, junho 05, 2009

terça-feira, maio 26, 2009

Take me far

Às tantas olho para mim e vejo o que há muito tempo não via.
E ainda mais forte, como se fosse pela primeira vez.
Vejo que...
... o coração palpita incessantemente, como se receasse parar no minuto seguinte.
... há um brilho nos meus olhos que se reflecte nas pessoas que me vêem.
... já não preciso de 8 horas de sono inteiras para revitalizar o corpo e a mente.
... os músculos faciais dão sinal de vida, porque já não estavam habituados a tanta felicidade.

Tanta cumplicidade não podia deixar de ser vivida e partilhada.
Obrigada por existires.

segunda-feira, maio 18, 2009

Volver

O tempo é um cavalo.
Suspiramos quando olhamos para trás e damos conta do que já passou e não volta, do que já vivemos tão depressa e tão intensamente e que queremos viver mais!...
Quero muito que o tempo seja um cavalo veloz, para que possa parar quando chegares.

segunda-feira, maio 11, 2009

Ezekiel

Segunda-feira de chuva e estou em "mode" Samuel L. Jackson:


domingo, maio 10, 2009

A melhor notícia que ouvi nos últimos tempos




"Endesa vai voltar ao mercado de electricidade em Portugal"


Finalmente as luzinhas de Natal que uso durante o ano inteiro, a água aquecida a electricidade, as luzes de espelho de toucador, a Televisão e DVD, o rádio matinal e as luzes de candeeiro espalhadas pela casa, vão deixar de me sugar parte do ordenado!!!!

Não suporto Monopólios.

Praga Séc. XXI

Por que é que cada vez que abre um novo centro comercial em Portugal, é sempre o MAIOR da Europa? Pffffffffffffff................

terça-feira, abril 14, 2009

Vários copos de vinho branco



Mil vezes uma maldade genuína a uma falsa bondade.
Cláudia P.



domingo, abril 05, 2009

O Pancadas

10h da manhã, com ressaca, mas tinha prometido um passeio no nosso famoso monumento lisboeta Aqueduto das Águas Livres:

O Aqueduto das Águas Livres é um complexo sistema de captação, adução e distribuição de água à cidade de Lisboa, em Portugal, e que tem como obra mais emblemática a grandiosa arcaria em cantaria que se ergue sobre o vale de Alcântara, um dos bilhetes postais de Lisboa.
O Aqueduto foi construído durante o reinado de D. João V (1748), com origem na nascente das Águas Livres, em Belas, e foi sendo progressivamente reforçado e ampliado ao longo do século XIX. Resistiu incólume ao Terramoto de 1755.




Foi aqui que ouvi falar do Pancadas.
Eu bem me parecia que já tinha lido nos livros de "Uma Aventura" que houve um homem no passado histórico que assassinava pessoas no aqueduto. Daí a saber que ficou conhecido como "Pancadas" havia uma distância superior ao comprimento do aqueduto (+ ou menos 58 kms).

Como a visita não foi guiada, googlei como milhares de navegadores da internet:

Resultado óbvio:
Wiki,
wiki wiki wiki
Wiki,
wiki wiki wiki
Pédia

(não sei porquê mas lembrei-me do ritmo de Buraca Som Sistema, deve ter sido da noite de Jamaica de ontem)

Wegue,
wegue wegue wegue
Wegue,
wegue wegue wegue

Wikipédia:

"O caminho público por cima do aqueduto, esteve fechado desde 1853, em parte devido aos crimes praticados por Diogo Alves (o Pancadas), um criminoso que lançava as suas vítimas do alto dos arcos depois de as roubar, simulando um suicídio, e que foi o último decapitado da História de Portugal.

Diogo Alves, espanhol nascido em Santa Gertrudes, bispado de Lugo. Veio viver para Lisboa ainda novo, tendo ficado conhecido como o assassino do Aqueduto das Águas Livres já que de 1836 a 1839 perpetrou nesse local vários crimes hediondos, muitos deles (pensa-se) instigado pela sua companheira Gertrudes Maria, de alcunha "a Parreirinha". Foi por fim apanhado pelas autoridades em 1840, na sequência do assassinato de da família de um médico cuja casa assaltara e, por isso, sentenciado à forca.

A história de Diogo Alves, cuja sentença de morte foi aplicada a 19 de Fevereiro em 1841, intrigou os cientistas da então Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa. Estes, após o enforcamento do homicida, na tentativa de compreender a origem da sua perfídia, deceparam e estudaram a cabeça de Diogo Alves. Esta encontra-se, ainda hoje, conservada num recipiente de vidro, onde uma solução de formol lhe tem perpetuado a imagem de homem com ar tranquilo - bem contrária ao que realmente foi. Os cientistas nunca terão conseguido explicar o que o levou a adquirir uma chave falsa do Aqueduto das Águas Livres, onde se escondia, para assaltar as pessoas que passavam, atirando-as de seguida do aqueduto, com 65m de altura. Na altura, chegou a pensar-se numa onda de suicídios inexplicáveis, e foram precisas muitas mortes - só numa família registaram-se quatro vítimas - para que se descobrisse que era tudo obra de um criminoso: Diogo Alves."



Homem com ar tranquilo?

Conclusão nº1:
Por trás de um rosto tranquilo, estão sempre grandes pancadas.

terça-feira, março 31, 2009

O Sofá



Há dois meses que não vinha aqui.
Estava com medo de encontrar o sofá vazio e de não conseguir enfrentá-lo.
(Incrível como um objecto pode causar-nos tanto medo.)

Mas vim.
O Snoopy ladra estridantemente como se não me visse há anos.
A minha avó abraça-me com aquele brilho nos olhos e aquela esperança de um dia me ver chegar acompanhada... diz-me sempre que me vê,

Olha que quem muito escolhe pouco acerta!
Daqui a nada estás passada e ninguém te pega!
Agora que a Tia Isidora se foi embora, sabes que eu não estarei cá muito tempo. Gostava tanto de ver-te feliz...


E eu não consigo ficar chateada.
Muito menos pressionada.

Queria tanto dar-te essa felicidade avó, acredita, mas não é assim. Não se vira a esquina e se esbarra contra o amor da nossa vida, como nos filmes. Cada vez existe menos aquele amor que nos tira o fôlego, que parece que nos mata de dor, que parece que nos eleva ao céu...Já ninguém morre de amor, muito menos vive de amor! Já ninguém se esforça, muito menos luta!
E entretanto entro, com a respiração acelerada.
Vejo um perfil de cabelo branco e de repente penso,
Afinal era um sonho mau, estás aqui. O sofá não está vazio.

- Quem é esta menina, Sanita?
(diminutivo de São e não objecto de dejectos)
- É a minha neta, não te lembras?
- Olá Otília, como está?? Sou a neta, a Cláudia...
- Ahhhh já não te via há tanto tempo....

e irrompe num choro porque a memória já lhe falha.

O envelhecimento constrange-me tanto,
ainda ontem, a D. Otília, amiga da minha avó,
tratava tudo da casa, sempre arranjadinha, sempre arrumadinha, super metódica, dava de comer às netas, ao marido, aos cães, aos pintos, ia à horta, colhia laranjas, apanhava alfarrobas e amêndoas...
e agora a D. Otília, lá porque tem mais cabelos brancos,
já mal se lava, não faz comida, a casa parece um caixote de lixo, não fala às netas, não as reconhece sequer, não tem marido, não sabe o que fala, come e a seguir diz que tem fome porque se esquece que comeu, diz que não lhe deram comida.

Eu olho para a minha mãe e com os olhos pergunto,
"-Mãe... para onde vão as pessoas quando chega ao fim?"

Sentamo-nos à mesa, a resposta não é o mais importante agora.

Olho para o sofá.
Está vazio.
Tu não estás cá.
E percebo,
que não interessa o tempo que passa.

Porque eu continuo a não aceitar a tua partida.


sábado, março 14, 2009

The Feast of Love



Bradley: Do you think love is a trick for us to make babies, or do you think it's the only reason for everyhting, to do this crazy dream?
Jenny: Which do you believe?
Bradley: The second one.


Glen Hansard and Marketa Irglova for "Falling Slowly" from "Once"
Oscar 2008 : Best Achievement In Music Written For Motion Pictures (Original Song)

I don't know you
But I want you
All the more for that
Words fall through me
And always fool me
And I can't react
And games that never amount
To more than they're meant
Will play themselves out
Take this sinking boat and point it home
We've still got time
Raise your hopeful voice you have a choice
You'll make it now
Falling slowly, eyes that know me
And I can't go back
Moods that take me and erase me
And I'm painted black
You have suffered enough
And warred with yourself
It's time that you won
Take this sinking boat and point it home
We've still got time
Raise your hopeful voice you had a choice
You've made it now
Falling slowly sing your melody
I'll sing along

domingo, março 08, 2009

Mulher



A velha sábia fumava o seu último cigarro do dia quando decidiu contar ao neto como tinha sido a sua juventude. O fumo percorria os sulcos vincados da pele como se procurasse estradas para o destino: a morte.

Fixou-se no olhar profundo e distante do neto e disse-lhe:

- Uma mulher tem de se sentir especial, Mateus. Se a tratas como todas as outras, ela nunca te levará a sério, nem te considerará um homem digno de respeito. Não queiras ser adorado por muitas. Estás a iludir-te. Até podes ficar com a sensação de realização e poder momentâneos. És jovem. É normal sentires-te o Rei do Mundo.
Quando somos jovens pensamos que somos eternos.
Mas um dia, quando olhares para o lado, vais perceber que não conseguiste construir nada suficientemente forte e sustentável. E nesse dia, chorarás como este rio que corre aos nossos pés e lembrar-te-ás das vezes que desperdiçaste porque estavas preocupado demais em espalhar o teu charme pelo Mundo.

Mateus irrompe num soluço barulhento e as lágrimas saem disparadas. Gritam por ajuda. Entre soluços inquietos e um olhar inundado, desabafa:

- Tens razão, avó.
Perdi-a para sempre.

Fogo




"Há quem passe por um bosque e só veja lenha para a fogueira."
Tolstoi

Enquanto houver estrada para andar



Tira a mão do queixo, não penses mais nisso
O que lá vai já deu o que tinha a dar
Quem ganhou, ganhou e usou-se disso
Quem perdeu há-de ter mais cartas para dar
E enquanto alguns fazem figura
Outros sucumbem à batota
Chega aonde tu quiseres
Mas goza bem a tua rota

Enquanto houver estrada para andar
A gente vai continuar
Enquanto houver estrada para andar
Enquanto houver ventos e mar
A gente não vai parar
Enquanto houver ventos e mar

Todos nós pagamos por tudo o que usamos
O sistema é antigo e não poupa ninguém, não
Somos todos escravos do que precisamos
Reduz as necessidades se queres passar bem
Que a dependência é uma besta
Que dá cabo do desejo
E a liberdade é uma maluca
Que sabe quanto vale um beijo

Enquanto houver estrada para andar
A gente vai continuar
Enquanto houver estrada para andar
Enquanto houver ventos e mar
A gente não vai parar
Enquanto houver ventos e mar

Enquanto houver estrada para andar
A gente vai continuar
Enquanto houver estrada para andar
Enquanto houver ventos e mar
A gente não vai parar
Enquanto houver ventos e mar


Jorge Palma

domingo, fevereiro 01, 2009

I lost You



The Walkmen

Requiem for a love of mine



Morrer é apenas não ser visto.
Morrer é a curva da estrada.

Fernando Pessoa

domingo, janeiro 25, 2009

Isidora

Começou um ano.
Um novo ano e eu pergunto-me por que me tem faltado a inspiração... viagens e mais viagens,
trabalho e mais trabalho (até pensar que terei casado sem saber, deveria estar a dormir) e depois... tu.

Isidora


Tu, que fazes parte da minha vida e contigo partilhei mimos que sempre fiz questão que tivesses.
Tu, que não tiveste a vida que toda a gente tem.

Tu, que sempre viveste no teu Mundo. O Salazar nunca percebeu que quem não aprendia bem na escola, não era porque não queria, era porque não podia. Encostaram-te ao fundo da sala. Como se fosses incapaz.

E depois ficavas feliz quando escrevia o teu nome e, com a língua de fora tal qual os míudos, tentavas copiar as letras e sorrias quando eu te dizia que estava bem.

Tu, que nunca tiveste filhos, nunca casaste, nunca conheceste o amor da tua vida (seríamos nós? quem precisa de mais desilusões?), que sempre criaste o teu Mundo, quando te zangavas com as nuvens, quando falavas à janela, sózinha, sobre a vida que nunca tiveste, o filho que nunca tiveste... quem via de fora não entendia. Mas para mim não era preciso. Bastava eu entender-te. Bastava quem estava ao pé de ti, gostar de ti, amar-te assim, como és, diferente. Linda. Fotogénica. A minha modelo preferida. Aquela cujo olhar se transformava quando eu apontava a objectiva.

Tu, que sempre foste gulosa, (azeitonas, amêndoas) adoravas, e nós, dávamos-te palmadinhas nas mãos como se fosse pecado tanta ingestão para quem já não aguenta tanto hidrato de carbono, tantos lípidos... sem imaginarmos que se assim gostavas. porque não?

Até ao fim, com prazer, afinal, não somos eternos.


Afinal, não somos eternos.
E eu pensava que sim.

Pelo menos neste mundo.

Porquê?

Por que é que temos de nos relacionar assim, aprofundadamente como se não fôssemos capazes de viver sem certas pessoas, e depois... tudo acaba?

Como se a finitude fosse o preço a pagar pela felicidade partilhada.



Chego ao Hospital e entro em estado de choque:
-Mãe. onde está? (ecoa na minha mente)

A minha mãe, ultrapassa-me e reconhece o que os meus olhos não queriam reconhecer.

Estás a desistir.
Este Mundo já não é o teu.
Não consigo controlar-me...
(eu, que sempre fora uma Madalena, agora percebia o verdadeiro estímulo do saco lacrimal).

Agarro-me a ti.
Faço-te festas.

(e os teus olhos grandes cravam-se nos meus)
E não consigo deixar de mostrar-te que sei que estás a querer desistir.
Ou talvez partir, voluntariamente, porque sabes que já não pertences aqui.

(e o saco lacrimal rebenta)

Dou-te de comer contrariamente ao que as enfermeiras dizem
(que não queres comer),
refilas,
como sempre mostraste nesse teu feitio tão vincado
(és diferente, mas não és parva, a ti, ninguém te engana).
Refilas, mas eu insisto.
Ml a ml, aceitas.
E comes tudo.


Domingo voltamos.
Estou mais forte, mas sabes?
Não consigo aceitar que queres partir.
Dou-te comida.
Engasgas-te como se fosses morrer de asfixia.
Asfixiada de pânico, desisto.
Não quero ser eu a precipitar.

A assistente social liga-me ontem e diz para preparar-me.
A minha mãe hoje liga-me e diz para preparar-me.

Não consigo.

Não.

Agora não.