sábado, abril 08, 2006

O Ritual



O ritual é sempre o mesmo. Fora isso, não seria ritual, não seria protocolo.
Aacabei de chegar de um ritual. Doiem-me os pés. Estão calejados do protocolo dos saltos altos em dias de cerimónia, porque não estão habituados. E habituada nunca estará a minha alma a tais rituais. Porque não se identifica. Porque não vê nada de novo, nada que lhe ensine e lhe surpreenda num dia de calor inesperado de ritual.

O padre recita sermões decorados num tom de voz gravada e ajuda-me a confirmar a minha heresia. Nada de novo. Só surpreendeu pela rapidez do sermão. O Santo António não foi assim tão fugaz com os peixes, mas eu agradeci a brevidade. Acho que tal foi justificado pela pressa em que saiu da linda capela, disfarçado de jeans (ou seria disfarçado de padre?), de pasta na mão, óculos escuros e de cigarro aceso.

Batem chapas a cores, são os fotógrafos que tentam dar vida ao ritual para assim posibilitarem uma recordação gravada e eterna. Sim, porque a nossa memória atraiçoa-nos e nunca sabemos se amanhã recordaremos o ritual. Nunca saberemos se o SIM de hoje será um NÃO daqui a horas, dias, meses, anos. Nunca saberemos se a pessoa a quem nos entregamos hoje, não nos deixará plantadas com os filhos para cuidar e educar, amanhã. Nunca saberemos o amanhã. Mas assim é que tem piada.

Foi mais um casamento. Não quero aquela tradição no meu casamento, por isso acho que não vou querer seguir um ritual. A minha grande amiga quis, e agora está feliz. Sem mais críticas e rejeições a rituais, nestes momentos o que mais importa...é saber que quem eu amo, seguiu o seu sonho.

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