quarta-feira, junho 20, 2007

Vómito

Penso que, penso que... penso tanto. Que enleio. Que novelo desorganizado.

Absorver Lobo Antunes até ao âmago da alma. Adorar, adorar. Adorar ler Lobo Antunes. Gostava um dia de ser assim, escrever assim, exprimir-me assim. Parece que as palavras lhe vomitam do núcleo por um fenómeno de sublevação. Palavras nada congeminadas, nada predeterminadas, nada calculadas, não há matemática na escrita... muito menos exactidão. Aposto que a caneta não acompanha a força impeladora que sente e o obriga a escrever. A vomitar.

Forgive me. Let live me. Set my spirit free.

Música deprimente que se dissemina em partículas subtis e atinge os ossículos do meu ouvido... tornando-se vibrações traduzidas em mim (e por mim) em lembranças, em palavras, em sonhos, em ilusões. Por que é que o que nos deprime nos incita a escrever... nos inspira? Letras de músicas de amor, não são mais do que reflexos de frustrações... pelo tempo que não volta, pela pessoa que queremos agora e não volta, pelos momentos partilhados que não voltam. Que erro. Dignificar a tristeza. Recalcar a rejeição. Enaltecer a indiferença. Glorificar em poemas, prosas ou músicas, o desamor. Que erro. Que também cometo.

Queria escrever como ele, viajar como ele, afinal sinto a mesma vontade de escrever de seguida sem resguardo ou pudor. Afinal sinto a mesma vontade de vomitar sem esta ter sido causada por uma quantidade absurda de gramas de álcool no meu sangue, no meu corpo.

Mas talvez não. Talvez não queira ser como ele.
É bem melhor escrever, vomitando, sem compromissos de sintaxe, sem exigências de semânticas e de coordenação. Já um outro (J.L.Peixoto) escreve dois pontos, seguido de palavra, seguido de dois pontos, seguido de palavra. Contraria todas as regras de linguística por mim (não tão bem) absorvidas e (algumas já) esquecidas... Mas conseguiu, conseguiu, pois conseguiu, ser reconhecido. Aqui e lá fora. Lá fora é traduzido. É reconhecido.

Mas não é isso que eu quero.

Só quero que tu, que não me vês mas que és visto por mim, consigas absorver as minhas palavras e sentir tudo o que eu sinto quando as escrevo... para ti.

1 comentário:

Anónimo disse...

Mais uma vez elas rebolam. As lágrimas. Teimosas como sempre.
Entranhas-te sem vergonha em mim. Violas os meus segredos com as tuas palavras. E fa-los gritar sem som. O "aperto" não deixa. Sufoca-o (o som) como sempre sufocou.
Triste não.
Apenas fica perdida em lembranças, durante 1 mes, a vontade que tinha de dividir este "vomitado" incontrolável contigo. E tu o teu comigo.
Escreve.
Adoro.te.