terça-feira, outubro 23, 2007

Benjamin



Benjamin Biolay - "Dans La Merco Benz"
Álbum Trash YéYé


Acordar e perceber que tem de ser mais um dia. Um dia em que lutas para que algo de diferente aconteça e não te deixe mergulhar na apatia monótona e sufocante. Queres respirar e abres a janela do carro... pufff! O cigarro do condutor vizinho misturado com o monóxido de carbono dos condutores vizinhos misturado com os perfumes dos condutores vizinhos. Que horror. Estás, Cláudia, estás encravada, sim, reprimida. Não consegues respirar, bem... profundamente. Acordas a pensar em como era bom ter o mar ali, logo ali, ao acordar. Poder pôr o pé na areia logo de manhã, antes de te dedicares a um dos teus sentidos da vida. Penso. "O que é que eu estou aqui a fazer?", meto a mudança e penso, "Mas por que é que sou mais uma num milhão que tenta entrar numa cidade sozinha num carro de tantos lugares?", e volto a pensar "Que direito tenho eu a poluir o ambiente, a julgar-me dona suficiente do Mundo e prepotente o suficiente para alugar um espaço fútil e desnecessário, para no fundo culminar tudo num tamponamento congestivo?", e ainda volto a pensar que poderia fazer, uma maluquice e idiotice bem benigna "Pst! Tu aí, desse carro, encosta o teu carro p'ra aí. Melhor! Vende-o! Passas a atravessar comigo todos os dias este elo tão ténue em que toda a gente se afunila e atropela... anda, e assim libertamos espaço e não contaminamos o ar que respiramos. Matamo-nos menos. Anda! Vem. Olha chama a outra pessoa do outro carro e diz-lhe para fazer o mesmo. Vem, combinamos, conhecemo-nos melhor, fazemos mais amigos. Para que nos fechamos cada vez mais? Vem, entra. Fica. Se quiseres...."

Piiiiiiiiiiiiiiiiii!!!!!!!!!!!!!! "Acorda pá! estás a dormir ainda??!!??? Anda com essa merd@!!! Carroça! Vê-se mesmo que és mulher!" Sobressalto-me... estava a sonhar claro. Embalada pelo Benjamin Biolay, tudo é mais possível. Penso "Palhaço do caraças, se pudesse, espetava-te com a carroça e logo verias como é que é ser mulher."

Respiro fundo... Fecho os olhos pouco tempo para não parar de novo. Meto mais uma mudança. Não escolho o caminho porque ele já está escolhido.

Talvez um dia faça inversão de marcha.

1 comentário:

Tânia Mealha disse...

"Cidade
Sem muros nem ameias
Gente igual por dentro
Gente igual por fora
Onde a folha da palma
afaga a cantaria
Cidade do homem
Não do lobo, mas irmão
Capital da alegria

Braço que dormes
nos braços do rio
Toma o fruto da terra
É teu a ti o deves
lança o teu desafio

Homem que olhas nos olhos
que não negas
o sorriso, a palavra forte e justa
Homem para quem
o nada disto custa
Será que existe
lá para os lados do oriente
Este rio, este rumo, esta gaivota
Que outro fumo deverei seguir
na minha rota?"

Utopia, de Zeca Afonso